quarta-feira, abril 21, 2010

Ainda sobre exposições, se vos interessa saber

Li há dias num blog algumas ideias sobre as exposições e as suas consequências nefastas. Não vou colocar em causa os motivos pelos quais esse texto foi escrito ou perder tempo em considerações sobre os mesmos, porque são irrelevantes, mas o tema é pertinente. O punch line é: por que devo levar o meu gato a exposições se ele sofre enormidades com isso? 

É claro que temos de compreender a posição. Nenhum criador é obrigado a perder o seu tempo e a expor o seu gato em shows. Claro que não. Mas tem de as substituir de certa forma, a fim de evoluir no seu conhecimento sobre o que tem em mãos. Eu até entendo que uma exposição seja desgastante: muitas horas no mesmo sítio, com muito barulho e cheiros opressivos para os gatos. Mas também é, ou deveria ser, um local de intercâmbio de ideias e de exposição de ensinamentos, por parte, fundamentalmente, dos juízes.

Um criador tem de estar preparado para ir a uma exposição e perder. Porque vai acontecer muitas vezes. Tem de estar preparado para ouvir coisas más. Mas tem sobretudo de entender que uma sentença de um juiz não nos dá sabedoria total. Talvez nem sequer as de dez. É verdade que muitas vezes os julgamentos são injustos, sejam favoráveis ou desfavoráveis, outras subjectivas, mas a soma de dez/quinze julgamentos pode dar-nos a ideia real sobre o que realmente temos em mãos. Com o tempo, já não precisaremos tantos da exposições, mas esse tempo vai demorar a chegar.

E por que isto é importante? Também é simples. Há uma coisa de nome pomposo que se chama selective breeding. Uma tradução literal seria «criação selectiva», ou seja, criar com o objectivo de obter o melhor exemplar a partir dos pais, que se complementam. É óbvio que isto não é fácil. É óbvio que nem todos o fazem, mas esse é o caminho. Para se fazer uma criação selectiva é necessário conhecer bem os nossos exemplares e não conseguimos chegar a esse estado de conhecimento apenas pelos nossos próprios meios.  As exposições não são tudo mais uma vez, mas podem ajudar. Esta tradução é claramente redutora: selective breeding é bem mais do isto mas não acredito que em Portugal alguém ande com tabelas de Puniet ao lado antes de acasalar os seus exemplares.

Sinceramente acho que ninguém nasce ensinado e todos sabemos muito menos do que o que deveríamos. Sempre achei que devia saber muito mais do que sei e nunca tive muito tempo para saber mais. Mas tento. Talvez saber que um gato azul como a Coco tem dois genes recessivos de diluição no locus d seja excesso de informação para muita gente, mas isso permite ver que quando acasalada com um gato como o Mouro, que é Dd (não diluído porque tem um gene dominante não-diluição, mas portador de diluição) todos os bebés serão portadores da diluição. Ou que, voltando às expos, uma gata com uma testa mais baixa deve ser acasalada com um macho melhor nesse aspecto. Todos vocês conhecem aprofundadamente os vossos gatos?

Voltamos ao domínio do óbvio: é óbvio que nem todos os gatos são gatos de exposição. Nós temos a sorte de ter um gato com o à-vontade do Mouro e outros que se sentem confortáveis e que sentimos perfeitamente não estarem em perigo. Os gatos que não se sentem tão bem não levamos tantas vezes ou não vão de todo. A experiência que adquirimos já nos permite olhar para eles de uma outra forma. O que vos deixo para pensarem é o seguinte: se o vosso gato não se sente bem em exposições, a responsabilidade é de quem? De vocês, que não o compraram com esse fim; ou do criador, que não teve em atenção o seu temperamento na altura em que o vendeu?

PS: Também li uma outra coisa noutro sítio que me deixou surpreendido. Um Exc.2 em dois gatos pode à mesma significar um bom julgamento ou encerrar críticas severas. Não pode ser traduzido de nenhuma das duas formas. Só o certificado entregue pelo juiz e o que ele diz na altura do julgamento é válido. Mas parece-me abusivo considerar que esse resultado «superou as expectativas».

(by Luís)

1 comentário:

Fini's Place disse...

Excelente artigo que nos faz pensar, enquanto criadores desta maravilhosa raça, e um alerta também para quem está, de boa fé, neste propósito. E se aprendessemos um pouco mais e sobretudo com quem sabe mais do que nós? Excelente desafio não acham? Mas para isso é preciso termos a "humildade". Será que todos temos?

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